Uma “Nova Ordem Energética Mundial”
(Excepcionalmente estamos publicando a newletter da Creativante desta semana aqui neste blog)!
July 17, 2022
Em seu mais recente artigo para o Project Syndicate o Prof. Kenneth Rogoff, da Harvard University/EUA, apontou que ao longo dos dois e meio últimos anos os preços mundiais de petróleo e gás estiveram sujeitos a choques de demanda e choques de oferta - algumas vezes ambos simultaneamente. Para ele a volatilidade resultante em mercados de energia é tanto um reflexo quanto um microcosmo de uma economia global cambaleante.
O Prof. Rogoff nos recorda que o preço do Brent crude oil (petróleo cru) caiu de um “normal” de US$ 69 por barril no final de 2019 para US$ 14 por barril em abril de 2020, à medida que a pandemia da COVID 19 se espalhava mundo afora. Dois anos mais tarde, em março de 2022, o preço disparou para US$ 133 por barril depois que a Rússia invadiu a Ucrânia. Agora está caindo novamente no meio dos crescentes temores de uma recessão nos EUA. Mas o preço pode subir rapidamente se a economia chinesa saltar para trás do coma induzido por suas políticas de zero-COVID.
A pergunta que o Prof. Rogoff se faz no artigo é a seguinte: o que pode acontecer em seguida, e como os policymakers podem manter seus olhos na sustentabilidade ambiental tendo em vista esta turbulência de mercado?
Ao invés de estendermos a visão econômica do Prof. Rogoff, nesta newsletter trazemos para a discussão uma visão de natureza “geopolítica” para a questão de energia. Trata-se do argumento que foi recentemente publicado em artigo para a revista Foreign Affairs por Jason Bordoff e Meghan L. O´Sullivan, intitulado “The New Energy Order” (A Nova Ordem Energética).
Segundo estes autores, com a invasão da Rússia na Ucrânia, o mundo parece estar num ponto de inflexão. Líderes de negócios têm declarado a aceleração da “desglobalização” e têm soado o alarme sobre um novo período de “estagflação” (combinação de estagnação com inflação), e países estão repensando quase todos os aspectos das políticas estrangeiras, incluindo comércio, gasto com defesa, e alianças militares.
Tais dramáticas mudanças têm ofuscado outra profunda transformação no sistema global de energia. Nas últimas duas décadas, a urgente necessidade de reduzir as emissões de carbono tem gradualmente conformado a ordem energética global. Agora, como resultado da guerra na Ucrânia, a segurança energética retornou ao centro das atenções, juntando-se à mudança climática como uma preocupação top para os policymakers. Juntas, estas duas prioridades estão inclinadas a conformar o planejamento nacional de energia, os fluxos de comércio de energia, e a economia global de forma ampla.
Países irão crescentemente olhar para dentro, priorizando produção doméstica de energia e cooperação regional, mesmo que eles busquem a transição para net-zero carbon emissions (emissões líquidas de carbono zero). Se os países se retraem em blocos estratégicos de energia, uma tendência multi década em direção a mais interconectividade de energia, arrisca dar lugar a uma era de fragmentação de energia.
Para os autores, em adição ao nacionalismo econômico e a desglobalização, a vindoura ordem energética será definida por algo que poucos analistas têm apreciado: intervenção governamental no setor de energia numa escala não vista na memória recente. Depois de quatro décadas durante as quais eles geralmente buscaram conter suas atividades em mercados de energia, os governos ocidentais estão agora reconhecendo a necessidade de desempenhar um papel mais expansivo em tudo desde construir (e aposentar) infraestrutura de combustível fóssil até influenciar onde companhias privadas compram e vendem energia, até limitar emissões através de precificação de carbono, subsídios, mandatos e padrões.
Esta mudança está inclinada a convidar comparações com os anos 1970s, quando intervenção governamental excessiva em mercados de energia exacerbaram repetidas crises de energia. Para os autores, o alvorecer da era de intervenção governamental não será uma coisa tão ruim, no entanto, se corretamente gerenciada. Apropriadamente limitada e customizada para endereçar falhas de mercado específicas, ela pode prevenir os piores efeitos da mudança climática, mitigar muitos riscos de segurança de energia, e ajudar a gerenciar os grandes desafios geopolíticos da transição energética vindoura.
Temos vários receios quanto à capacidade dos países em proporcionar tal “intervenção governamental” de forma eficiente e equilibrada num mercado tão complexo quanto este de energia. Particularmente pelo fato de que o mercado de energia hoje em dia é fortemente relacionado com os mercados financeiros globais. Para atestar, basta que citemos o papel do dólar como reserva internacional nas transações de comércio global, e de energia em particular, e as recentes contestações de sua dominância histórica em tais transações (tema que trataremos em outra oportunidade)!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre novos ordenamentos energéticos globais, não hesite em nos contatar!